Filme brasileiro denuncia genocídio na Palestina e cobra posicionamento ético


“Notas Sobre um Desterro” volta a Curitiba em sessão única na Cinemateca no próximo

sábado, antes de seguir para o Festival de Brasília.


Desde que o filme Notas Sobre um Desterro teve sua primeira apresentação, no

Festival Olhar de Cinema, em Curitiba, a trajetória do documentário foi catapultada

para um outro patamar. As exibições reuniram centenas de pessoas, enquanto outras

tantas participaram dos debates liderados pelo diretor Gustavo Castro e a produtora e

roteirista Juliana Sanson. Não por acaso. O tema do documentário é urgente: uma

denúncia sensível da resistência palestina diante de um cenário estarrecedor.

Agora o documentário terá uma única exibição em Curitiba, no sábado, dia 30 de

agosto, às 16h15, na Cinemateca de Curitiba. Em seguida, segue para o Festival de

Brasília do Cinema Brasileiro, que celebra 60 anos em uma edição histórica.

“Há um ano e meio ouvimos notícias sobre Gaza, sempre de forma superficial, como se

tudo tivesse começado em 7 de outubro de 2023. Notas Sobre um Desterro parte da

premissa de que, diante de um processo quase irreversível de e limpeza étnica, tomar

partido uma obrigação ética”, afirma o diretor.

A ideia do filme surgiu em 2018, quando Castro e o fotógrafo Rafael de Oliveira

cruzaram a Cisjordânia com câmeras na mochila e uma pergunta essencial: como

sobrevivem os que resistem? Durante um mês, percorreram estradas vigiadas por

tanques e checkpoints acolhidos por uma família em Kobar, a de Rabah, irmã

presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). O objetivo inicial era

registrar a vida sob ocupação e as possibilidades de coexistência. Mas os

acontecimentos de outubro de 2023 alteraram o rumo do projeto.

Realidade

O resultado é um filme em primeira pessoa com alcance coletivo. Reúne registros de

2018, imagens históricas de arquivo e vídeos recentes, compartilhados nas redes

sociais pelas próprias vítimas em Gaza. Não há narração didática nem termos técnicos:

a realidade aparece crua, enquanto o olhar é de profunda humanidade. O que se

constrói é um ensaio visual que se recusa a ceder ao esquecimento.

“A experiência me permitiu testemunhar o que significa viver sob um regime colonial

de apartheid, que segrega e oprime o povo palestino”, afirma Castro.

Nos anos seguintes à primeira viagem, o projeto ganhou densidade com a entrada da

produtora e roteirista Juliana Sanson e do montador e também roteirista Ticiano

Monteiro. O longa foi estruturado e aprofundado por uma extensa pesquisa histórica e

iconográfica. “Não é apenas um filme sobre a Palestina; é sobre como o mundo vem se

posicionando diante da catástrofe palestina há quase oito décadas”, observa Juliana.


Para Castro, trata-se de um dos raros filmes brasileiros a abordar o tema,

impulsionado pela urgência de um posicionamento diante do que se vive hoje em

Gaza. “O mundo não pode ser cúmplice, e nós não podemos permanecer neutros

diante da barbárie. Nossa forma de agir é por meio do cinema”, diz.

Notas Sobre um Desterro é, sobretudo, um filme que se recusa à neutralidade. Onde a

diplomacia fracassa e a imprensa hesita, ele avança. O filme participa dos principais

festivais de cinema do País.

Serviço:

Notas sobre um Desterro - 30 de agosto, sábado, às 16h15, na Cinemateca de Curitiba.

A sessão contará com debate com o diretor Gustavo Castro e equipe do filme e

professores do Curso de Cinema e Audiovisual da Unespar.

Notas sobre um Desterro - Festival de Cinema de Brasília – exibição no dia18/09, às

19h.

Notas sobre um Desterro

Sinopse

As filmagens do encontro com uma família brasileira-palestina na Cisjordânia de 2018

são revisitadas após 7 de outubro de 2023. O que era para ser um filme sobre as

possibilidades de coexistência em uma terra ocupada, se transforma em uma brutal

reflexão sobre colonização, apartheid, genocídio e a recente proliferação de imagens

de guerra, produzidas pelas próprias vítimas de um massacre que se repete no curso

do tempo. 


Sobre o diretor

Gustavo Castro é diretor, diretor de fotografia e editor. Realizou mais de 30

documentários sobre temas sociais na América do Sul, Amazônia e Oriente Médio. Em

2025, lançou seu primeiro longa como diretor: Notas sobre um Desterro, um filme-

ensaio sobre a questão Palestina.

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